sexta-feira, 27 de novembro de 2009

O imaginário e o real



Fonte site: Conversas Trocadas

O imaginário e o real


No meio da noite aquilo me atormentava. Fazia de tudo para acordar, me despertar daquele sonho terrível. Tudo o que eu mais queria naquele momento era sair correndo e pular para fora da minha mente. Fiz esforços para nada. Não consegui acordar. Parecia que havia uma porta trancada em minha cabeça. Me sentia rebatendo pela cama, a procura de algo para segurar, até que achei um pedaço de edredom perdido. Aquilo foi reconfortante, me trouxe segurança, mesmo as imagens geradas na minha mente sendo terrivelmente assustadoras. A impressão que tive era que horas se passavam e aquele pesadelo não tinha fim. Assim que percebi que bem longe havia uma luz, saí correndo em direção dela. Mas no meio do caminho havia um obstáculo. Um penhasco. Corri com tanta força na direção da luz, que não tive tempo para frear. Quando vi, já estava naquela água gelada e profunda. Um lago no meio do nada. Em volta, escuridão. O frio me fazia tremer incenssantemente. Olhei ao meu redor mais uma vez e vi novamente aquela luz. Desta vez ela estava mais próxima. Então, nadei, nadei e nadei até alcançá-la. Foi aí que acordei sufocada, com falta de ar. Quando finalmente consegui abrir meus olhos, haviam pessoas ao meu redor preocupadissimas comigo. Acredito que meus gritos de desespero não assustaram só a mim, mas também à minha família. Tudo o que consegui dizer na hora foi "desculpa".


Como nossa mente nos confunde. Acredito que se a levarmos muito a sério, ela nos enlouquece. Por instantes, cheguei a acreditar que tudo o que vi em meu sonho era real. Felizmente, não. Mas e se fosse? Como conseguimos criar situações tão reais, mesmo não tendo nunca ido a determinados lugares ou visto pessoas que em sonhos a gente vê? Sem pensar em explicações espíritas ou científicas, se é que de fato sejam verdade, certo?
A partir desse sonho, passei a pensar em algumas situações de nossas vidas. Como sabemos se um sentimento é real ou imaginário - algo que você queria que fosse, mas não é? A exemplo: como saber se estamos ou não amando uma pessoa, de fato? Sinceramente, nunca amei. Tinha uma versão do que é o "amar" na minha mente que me confundia, mas após algumas experiências, acredito que nunca amei. Gostei muito e me apaixonei, mas amar, não. Na verdade, acho que aquilo que eu dizia "amor" era um sentimento criado por mim mesma, que eu gostaria que fosse e não que de fato era. Afinal, relacionamentos se encerram e os sentimentos com o tempo também. Pelo menos foi assim comigo.
Um dia, uma pessoa me perguntou se, quando criança, tive meu mundo imaginário. Loucura dizer isso, mas tenho até hoje. Como não tinha muitos amigos na minha infância, criei um ciclo de amizades. e, por incrível que pareça, eram as únicas pessoas que eu confiava, mesmo sendo criadas pela minha mente. Engraçado. Eles sempre me defendiam, eram minhas companhias para tudo. Meu atual mundo imaginário é colorido. Sua atual cor é o verde água ou azul esverdeado, como preferirem. É uma cor menos agressiva, mais calma, relax. Mesmo porque, minha vida está sossegada (tirando a faculdade, claro, porque senão seria um vermelho bem vibrante). As pessoas até estranham isso, pois não procuro nada, deixo as coisas/ pessoas me procurarem e deixo acontecer e acho que é assim que tem ser. Por isso, a cor.
Então, criar mundos imaginários pode ser perigoso, uma vez que eles sempre são melhores que o real. Tudo dá sempre certo, os problemas são resolvidos facilmente, sem estresse e sem tristeza. A vida real, ao contrário, como absolutamente todos sabem, não é assim. A vida é um desafio. Um desafio daqueles ainda.
Entretanto, a realidade e a imaginação vivem de mãos dadas, se complementam, como as cores vermelho e verde. As vezes, se completam. As vezes se retraem. O importante é saber separar coisas reais de imaginárias para não cair num paradoxo. O imaginário é uma tentação, mas o real é surpreendente. Saber viver - eu ainda não sei, apenas existo - deve ser fantástico. Sentir sensações de verdade, sem tê-las imaginado como são ou como seriam se acontecesse e presenciar situações que só em sonhos - e daqueles mais loucos - parecem existir ainda é uma das realizações que pretendo conseguir em minha vida.


By Happyness' not for sale
Músicas: Damien Rice

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